Livros


Livros

Etty Hillesum Diário 1941 - 1943
Diário de uma jovem mulher em Amesterdão, durante a ocupação alemã (2ª guerra mundial) que fala do seu dia-a-dia e das suas preocupações que se revelam tão triviais como intemporais. Estas passam por questões como as leituras que quer manter em dia, a importância do que escreve e estuda, os seus sonhos e a relação com o seu terapeuta. A par destas, a escritora também tentava perceber alguma parte daquilo que estava a acontecer do mundo. Dizia até que queria ser a poeta para retratar esta época da história, mas morre antes do final da guerra.

"Estou contente pela enorme pila de loiça por lavar que me espera amanhã de manhã (...) uma espécie de penitência (...) afinal sempre estou um bocadinho triste esta noite."

"Mas a minha tristeza não é mais a de antigamente. Não me vou abaixo tão profundamente. Na tristeza, o levantar-se já vem incluído. Antigamente pensava que iria continuar triste para o resto da vida. E agora sei que esses momentos fazem parte do ritmo da vida e que está bem assim. É novamente aquela confiança, aquela grande confiança, também em mim. Confio igualmente na minha seriedade e entretanto eu própria sei que hei-de conduzir bem a minha vida. Há momentos, e então estou quase sempre sozinha, em que existe um sentimento muito profundo de amor e gratidão por ele, um sentimento de: «Tu és-me tão próximo que eu gostaria de partilhar as noites contigo.» E estes são, pois, para mim, os pontos mais altos da nossa relação. E é bem possível que uma noite dessas acabasse realmente numa catástrofe. Há aqui ou não uma estranha disparidade? (...) E no entanto: não quero o corpo dele para absolutamente nada, embora às vezes me sinta de repente apaixonadíssima. Será porque o amo tão profundamente e quase «cosmicamente», que nem sequer é possível a aproximação através do corpo?"

Contextualizando as suas confidências com a época histórica e com as condições de vida da autora, é possível perceber como na vida das pessoas tudo acontece ao mesmo tempo: o medo, a paixão, a fome, o sacrifício, o estudo, a arrumação da casa, a insegurança, entre outros. Os pensamentos que se descobrem ao ler o livro impressionam pela intemporalidade das palavras, dos temas e dos sentires que ao mesmo tempo que julgamos familiares, compreendemos numa situação muito distante e diferente.


Suite Francesa de Irene Nemirovsky 
Livro escrito na altura da 2ª guerra mundial, durante a ocupação alemã em França. A autora descreve não só as alterações políticas e sociais que ocorrem em França nessa época, mas também vai descrevendo as alterações no dia a dia e pensamentos das pessoas.

Ao lermos o livro conseguimos perceber que ao mesmo tempo que um acontecimento relevante na história do mundo acontece, quem o vive também tinha outras questões mais mundanas com que se preocupar. Individualizando assim a história dos franceses e a de cada soldado e deixando no ar questões relacionadas com a educação, a gentileza, o amor e as rotinas diárias que se vão confundindo entre invadidos e invasores.

Nesta obra também é possível perceber que não só a realidade se encontrava em constante e profunda transformação, como era profundamente transformadora do pensamento, razões e preocupações dos indivíduos que se confrontavam com ela, cada um reagindo de acordo consigo próprio e com o seu contexto pessoal.