LUGAR-COMUM

Marta Filipa Costa
Instalação Artística
Projeto Artes Plásticas & Multimédia | ESEV

Orientadores
Andreia Pinto Sousa
Pedro Rito

There isn’t one space, a beautiful space, a beautiful space round about, a beautiful space all around us, there’s a whole lot of small bits of space. Georges Perec

A instalação artística “Lugar-Comum” surge como um projeto de artes plásticas e multimédia que parte de inquietações pessoais relacionados com a forma como as pessoas interagem entre si e com a falta de eficácia que se verifica nas ações de sensibilização levadas a cabo sobre alguns dos temas mais fraturantes da nossa sociedade. Assim, a instalação debruça-se sobre o indivíduo na sua componente individual e coletiva como cerne de todo o seu desenvolvimento e consequentemente das suas ações para com os outros, concretizando-se com recurso à fotografia impressa, som, objetos usados e sensores.

Como Georges Perec afirma no seu livro “Species of Spaces and other Pieces” não vivemos num único espaço, mas em vários espaços. Nesses mesmos espaços, situações que podem ser consideradas de maior ou menor relevância ocorrem ao mesmo tempo. Como indivíduos, vivemos as nossas vidas e as nossas partes do espaço comum de forma individual pertencendo, inevitavelmente, a algo maior que nós próprios, que as nossas perspectivas e que o espaço que ocupamos ou reconhecemos. Da vida fazem parte os acontecimentos extraordinários e que reconhecemos como importantes que convivem no mesmo espaço/tempo que os outros acontecimentos considerados triviais e de menos valor. No entanto, a maioria das pessoas vive uma percentagem muito maior de acontecimentos considerados triviais e as suas vidas podem ser consideradas extraordinárias.

Este projeto pretende realçar as percepções individuais e a forma como vivemos o nosso espaço e reconhecemos lugares-comuns nas formas como os outros vivem os seus, realçando também o valor dos acontecimentos mundanos na vida de cada um.


OBJECTIVOS DO PROJETO
1. Estudar os vários espaços existentes no mesmo espaço. Exploração do espaço interior através da transformação dos pensamentos em algo palpável.
2. Realçar a importância de situações mundanas na história de vida das pessoas e na história global de um povo.
3. Contrariar a ideia de que para se criar história é preciso acontecer algo extraordinário, pois todas as nossas trivialidades irão pertencer ao passado, e por definição à História.
4. Reconhecer as pessoas não só como parte de um todo, mas como um ser individual e perceber o que realmente vivem quando “não vivem” – as suas banalidades;
5. Criar intimidade entre o visitante e o desconhecido, incentivando-o à descoberta do outro e à descoberta individual de espaços comuns.
6. Convidar as pessoas a reconhecerem lugares-comuns nos espaços individuais dos outros.



O LUGAR-COMUM
Lugar-comum é uma expressão derivada do latim locus comunis. Pode ser utilizada no lugar da expressão cliché, estereótipo ou frase feita. Nos nossos dias assume um sentido pejorativo referindo-se a algo banal, revisitado ou uma ideia muito batida e gasta.Na literatura, expressões como “trinta por uma linha”, “ao fim ao cabo”, “nunca mais é sábado” podem ser reconhecidas como um lugar-comum por terem um significado que é compreendido por um largo conjunto de pessoas, mas que não se descodifica no sentido de cada palavra.

Na idade média, no discurso retórico clássico, utilizar lugares-comuns era fundamental e imprescindível para que o ouvinte pudesse compreender e relacionar-se com o que se falava. Esta técnica de oratória conferia também ao seu autor uma certificação de conhecimento cultural entre os seus pares. “Não só dava uma eminente dignidade cultural a quem o inseria no seu discurso, como era ainda praticamente impossível expor ou discutir sem apelar para estas parcelas de linguagem já feitas.” (Ceia, s.d. para.1)

Foi também importante para o projeto que se fizesse uma pesquisa sobre o lugar-comum nos diferentes espaços, na história, na arte e nas vivências do artista encontrando importantes referências para o projeto como a obra 'Veja meu bem' de Marepe. 'Never Look Back Unless it's a Good View' de Joana Astolfi e 'The Exceptional & The Everyday: 144 hours in Kiev' de Lev Manovich entre outros.